NEWS | Seis em cada dez municípios do Brasil são “desertos de notícia”, revela estudo

logomarca do Atlas da Notícia pela Editora Casa da Árvore
RESUMAÇO

O Atlas da Notícia 2019 identificou uma taxa de cerca de 60% de “desertos de notícias” no Brasil — ou seja, a cada dez cidades, seis não possuem um veículo dedicado a notícias locais. A região Centro-Oeste tem a menor taxa de desertos de notícia mas também é aquela com menos veículos identificados, atrás apenas da região Norte. O jornalismo local é visto por acadêmicos como muito importante para cumprimento do papel cívico do Jornalismo e também como antídoto para desinformação espalhada pelas redes sociais, mas tem apresentado dificuldades para sustentar modelos de negócio, sobretudo no interior.

Texto na imagem diz: Atlas da Notícia - Mapeando o jornalismo local no Brasil
Imagem via Observatório da Imprensa

A última edição do Atlas da Notícia revela que seis a cada dez cidades do Brasil não possuem um veículo jornalístico com notícias locais, revelando os chamados “desertos de notícias”. Focado na distribuição de notícias para os munícipios onde são produzidas, o levantamento foi realizado por equipes específicas para cada região do país, coordenadas pelo Volt Data Lab em parceria com o Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), mantenedor do Observatório da Imprensa.

Segundo a coordenadora da pesquisa para o Centro-Oeste, Angela Werdemberg, a região teve o menor índice de desertos de notícias, mas é a segunda com menor número de veículos identificados (14%), com exceção da região Norte.

Goiás e Goiânia

Segundo os dados abertos da pesquisa, dos 680 portais de veículos encontrados no Centro-Oeste, menos de 10% estão em Goiás (66). No Estado, Goiânia concentra a maior parte desses veículos (39). No interior, as rádios ainda têm destaque mas os sites são os veículos preferidos pelas empresas, com frequência cobrindo mais de um município.

Imagem mostra mapa do Brasil com distribuição de desertos de notícia. Texto na imagem diz: "Estes são todos os municípios brasileiros considerados desertos de notícias. São 3487 que não têm nenhum veículo jornalístico, de um total de 5.570 cidades (62%)".
Recorte de dados do Atlas da Notícia mostra distribuição de municípios considerados “desertos de notícias”

Por outro lado, de acordo com a coordenadora para a região Centro-Oeste, dos 64 fechamentos de jornais detectados no período, 62 ocorreram no interior, com destaque para os portais de notícias, que mostram dificuldades para sustentar um modelo de negócio.

Os dados chegam em um momento em que a justiça determinou a falência do Diário da Manhã, veículo goianiense com quase 40 anos de atividade. Os jornalistas do periódico já enfrentavam problemas com atraso nos pagamentos há pelo menos uma década.

O Atlas não oferece links para os sites identificados, forçando pesquisadores que queiram lidar com os dados a fazer essa indexação. Apesar de identificar suas fontes, a pesquisa não detalha quais critérios utilizou para classificar os veículos mapeados como “jornalísticos”.

Jornalismo de Proximidade

O tema do jornalismo local é discutido há algum tempo nas universidades. Em 2017, a Universidade da Beira Interior, de Portugal, publicou o livro Media e Jornalismo de Proximidade na Era Digital.

Na obra, Igor Savenhago faz um panorama desse tipo de jornalismo no Brasil, resgatando a trajetória do jornalismo regional. Segundo o autor, esse tipo de produção é muito importante para aproximar a imprensa de seus públicos e conseguir atender a demanda por informação direcionada, aliada à cobertura de temas de interesse público que possam sustentar o dever cívico do jornalismo de informar.

O movimento mais geral das empresas com filiais regionais depois do fim da década de 1990 tem sido o de valorizar a programação local. A razão do esforço tem como alvo claro a emergência de portais informativos independentes ou a circulação de informações locais em redes sociais digitais.

A concorrência com esse tipo de mídia é evidente em casos como o de Cidade Ocidental, munícipio situado no entorno de Brasília, onde a ausência de imprensa local faz seus moradores dependerem de informações circuladas pelo Whatsapp ou Facebook.

Na web

Produções recomendadas sobre o Atlas da Notícia:

Os partidos que comandam cidades que não possuem Jornalismo Local (Núcleo Jornalismo, 2020)

Excelente análise do Núcleo, com cruzamento de dados, mostrando os partidos à frente da gestão de cidades consideradas desertos de notícia. O resultado não é exatamente uma surpresa: os partidos que mais elegeram prefeitos no país são também aqueles que controlam mais desertos de notícia, com o top 3 formado por PMDB, PSDB e PSB, respectivamente.

O jornalismo local de 2020 vai ser construído com as pessoas, ou não será (Nina Weingril, 2019)

Análise equilibrada que aponta para a necessidade de revisar alguns pressupostos da pesquisa e de considerar mudanças recentes trazidas pela cultura digital que transformaram o público. O acesso facilitado a ferramentas como o Whatsapp permite a criação de grupos autônomos de circulação de informação local que, por vezes e a despeito do esforço dos pesquisadores, ficam invisíveis para levantamentos como o realizado pelo Atlas.

Como um projeto pretende mapear a presença de jornais locais no Brasil (Nexo, 2017)

Notícia do Nexo sobre a primeira edição do Atlas. Interessante para observar mudanças consideráveis nos dados recolhidos há apenas três anos. Na época, o levantamento preliminar indicava que um a cada três municípios não tinham veículos com notícias locais (cerca de 30%), enquanto essa taxa na edição mais recente do levantamento está em torno de 60%. Um estudo mais detido poderia identificar se o número de desertos de notícia quase dobrou, ou se o número aumentou apenas pela melhora da precisão decorrente do uso de outras fontes de dados.

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