NEWS | UFG realiza Seminário de Ciência, Tecnologia e Inovação

fotografia da fachada do CRTI/UFG

Raniê Solarevisky

A UFG realizou no último dia 09, no Centro Regional para o Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Crti) a primeira edição do Seminário de Ciência, Tecnologia e Inovação. A  como o seminário realizado na semana passada. Durante o evento, o Prof. Wendell Coltro, premiado pesquisador do Instituto de Química da UFG, apresentou uma solução inovadora para diagnósticos clínicos mais baratos e ao final das palestras, houve uma visita pelas instalações do Crti/UFG.

O professor Jesiel Freitas Carvalho, presidente da comissão de implantação do Crti, apresentou um panorama das iniciativas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação no Brasil e no Estado de Goiás. De acordo com dados apresentados pelo professor, os países com maior PIB são justamente aqueles que mais investem em Pesquisa e Desenvolvimento.

Outra marca que os números apontam é a prevalência de engenheiros ligados à P&D em empresas, quando a maioria deles no Brasil trabalham em universidades. Mais: 52% dos investimentos em P&D no Brasil são realizados pelo poder público. A estatística aproxima o país de outros governos que investem a maior parte do montante de Tecnologia e Inovação, como a Rússia (66,5%), ao contrário de Estados que são responsáveis pela menor parte dos investimentos nesse setor em seus territórios, como o Japão (36%).

Para o professor Jesiel Freitas, a fragilidade do setor do sistema de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação no Brasil deve-se tanto à dificuldade das universidades em socializar as pesquisas que realiza com as empresas, quanto à resistência das indústrias em assumir riscos com o esforço de inovação. “Transferência de conhecimento é ação social da universidade de alta relevância, mas ao mesmo tempo, precisamos formar pessoas onde a inovação é parte do processo de aprendizado”, declarou.

Lab on a chip: Pesquisa premiada pelo MIT

Wendell Coltro, do Instituto de Química da UFG, apresentou uma pesquisa inovadora que desenvolve soluções baseadas no conceito do Lab on a chip. O termo é usado para referir-se a um dispositivo que miniaturiza vários dos serviços executados em um laboratório em um chip com dimensões de alguns micrômetros. O pesquisador recebeu a versão brasileira do prêmio MIT Technology Review, que reconhece pesquisadores inovadores com menos de 35 anos, e outras honrarias de nível nacional e internacional foram concedidas a outros membros do grupo.

Em 2010, a equipe iniciou seus trabalhos com apenas 3 pessoas; hoje, conta com mais de 200 integrantes e ainda oferece workshops para disseminar a técnica. A ideia é que, com apenas uma gota de sangue (cerca de 0,05 ml), seja possível realizar diversos exames que atualmente custam muito caro e exigem ao menos 10 ml de sangue coletados com seringa em laboratórios. A tecnologia permitiria fabricar dispositivos que oferecem material para diagnósticos diversos (taxas de glicose, triglicérides, outras variáveis de hemogramas e detecção de doenças como a dengue) ao custo de cerca de 10 centavos cada.

Muitos materiais foram testados para se chegar a uma solução barata e que pudesse ser (re)produzida em larga escala. Inicialmente, usava-se placas de papel e toner para criar “fôrmas” onde o sangue e os reagentes seriam depositados, fazendo mudar a cor da amostra em análise e tornando possível um diagnóstico. Algum tempo depois, com a intenção de baratear as análises — a impressão das placas tornava o processo muito caro –, o pesquisador confeccionou um carimbo que imprimia um selo sobre papel parafinado. A amostra de sangue é depositada no centro da nova fôrma — que lembra um selo com um asterisco (veja a foto) — e espalha-se pelo papel até chegar aos reagentes depositados nas pontas do desenho, que mudam de cor ao reagir com a amostra, possibilitando um diagnóstico. “Qualquer pessoa pode fotografar esse selo com um celular e enviar a foto a um médico que, analisando o resultado das reações identificado pelas cores no selo, consegue emitir um diagnóstico”, descreve o professor Wendell Coltro.

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Esquema mostra fabricação dos selos de diagnóstico desenvolvidos em pesquisa coordenada pelo Prof. Wendell Coltro. Um carimbo de metal é aplicado sobre uma camada de papel parafinado (p-paper) e outro papel absorvente (n-paper) para gerar o selo onde serão depositados a amostra de sangue (no centro do asterisco) e os reagentes (nas pontas arredondadas). Fonte: RSC Adv., 2014, 4, 37637

A pesquisa foi publicada em vários periódicos científicos, dentre eles, no RSC Advances, da Royal Society of Chemistry.

Sobre o Crti

Segundo a UFG, a construção e implantação do Crti teve um custo de cerca de 20 milhões de reais, cobertos pela própria universidade, pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás (Sectec). Para o coordenador de transferência tecnológica e inovação da UFG, Cândido Borges, “a instalação do Crti marca um novo patamar para a pesquisa na UFG e sua contribuição com a sociedade”. O centro foi inaugurado no final do ano passado.

As quatro divisões do laboratório já estão em operação, com alguns equipamentos ainda encaixotados e à espera da conclusão das obras, mas já há bolsistas trabalhando no prédio e instalação da rede elétrica foi finalizada. Algumas empresas, sobretudo da área de fármacos e mineração, já estão utilizando os serviços oferecidos pelo Crti. Um dos equipamentos é capaz de detectar a massa de um átomo específico numa área equivalente à de uma piscina olímpica.

Equipamentos de difratometria de raios X, usados para aplicações na indústria de fármacos, por exemplo. Fonte: Crti/UFG
O Crti possui equipamentos de difratometria de raios X, usados para aplicações na indústria de fármacos, por exemplo. Fonte: Crti/UFG

O prédio do Crti faz parte de um complexo que pretende servir como plataforma de interação entre universidade, empresas e a comunidade em geral. Toda a quadra onde o prédio está instalado – denominada “quadra K” no mapa do Campus Samambaia – será ocupada por pelo menos mais um grande prédio de P&D, uma incubadora, prédios de empresas e espaços para eventos e reuniões que vão compor o Parque Tecnológico Samambaia (confira a maquete em 3D), numa área de 17,9 mil m².

Esquema mostra concepção artística do Parque Tecnológico Samambaia, com o prédio do Crti em destaque
Esquema mostra concepção artística do Parque Tecnológico Samambaia, com o prédio do Crti em destaque. Fonte: Crti/UFG

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