LISTAS | Contagens regressivas para garantir (algum) futuro sustentável

fotografia do Climate Clock

Alertas de múltiplas fontes científicas mostram preocupação com o tempo que nos resta para agir

Climate Clock
6 anos e caindo

Mantido pelo Beautiful Trouble, um coletivo de 175 artistas-ativistas, o relógio estima o tempo restante para que um corte nas emissões de carbono consiga prevenir o aumento da temperatura global em 1,5º C. Caso essa meta não seja atingida a tempo, a vida na Terra pode tornar-se insustentável para boa parte das espécies que habitam nosso planeta hoje. A contagem regressiva é baseada em projeções do MCC Carbon Clock, do Mercator Research Instituto on Global Commons and Climate Change.

Versões do contador já foram instaladas no gasômetro de Berlim e também no centro de Nova Iorque. O relógio precisou contar 9 casas depois da vírgula para conseguir demonstrar o crescimento da porção de energia renovável em níveis absolutos.

Agenda 2030
8 anos e caindo

A Agenda 2030 das Nações Unidas adiciona um senso maior de urgência à questão porque traça metas específicas para diferentes eixos de ação. A principal fonte da agenda, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgou um relatório alarmante em agosto de 2021 que destacou a necessidade de ações imediatas e drásticas para evitar um “cataclisma climático” em todo o mundo.

A Nature já defendeu uma revisão das metas em editorial do ano passado, já que muitas de 2015 já haviam se tornado inviáveis. Segundo o texto, a pandemia de Covid-19 colocou em risco o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A maioria dos objetivos de acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e apoiar o bem-estar até 2030 já estava fora do curso, e agora pouco progresso foi feito.

Para além do bem-estar da Terra, ainda de acordo com a Nature, a vacinação infantil em 70 países parou, 90% dos estudantes do mundo estão fora da escola, mais de 270 milhões de pessoas enfrentam fome, e mais de 70 milhões podem ser empurradas para a extrema pobreza este ano. O aumento da violência doméstica em decorrência do lockdown prejudicou bastante o progresso do objetivo de igualdade de gênero e empoderamento das mulheres. A ONU e outros pesquisadores questionam se os ODS ainda são adequados para o mundo pós-pandêmico, e propõem uma nova abordagem, desvinculando o crescimento econômico dos objetivos, que precisam continuar guiando a recuperação pós-Covid.

Coppe / UFRJ
3 anos e contando

Em entrevista para a Agência Pública, o economista Roberto Schaeffer adverte que o mais importante não são as metas estabelecidas pelas pesquisas, mas o que podemos fazer efetivamente para chegar lá. De acordo com o pesquisador, já seria muito difícil chegar ao meio do caminho, em que a meta seria de reduzir drasticamente as emissões até 2025 para chegar a uma situação estável em 2050.

Mesmo nesse cenário, o pesquisador que integrou a equipe que elaborou o relatório do IPCC de 2021 diz que isso já não seria suficiente para evitar o colapso da vida na Terra. Questionado pela repórter da Pública se a meta passou a ser 2025, o pesquisador diz que a antecipação necessária seria ainda maior. “A linguagem que a gente usa é um pouco dúbia. É até antes de 2025. Em 2022, 2023 e 2024 já temos que começar a reduzir as emissões. Isso significa que o pico de emissões dos gases de efeito estufa tem que chegar ao seu máximo antes de 2025. Como trabalhamos em anos, 2024 é o último ano em que as emissões ainda podem subir e a partir daí tem que começar a descer e descer rapidamente”.

IPCC 2022
Esqueçam o relógio

O mesmo Roberto Schaeffer (Coppe/UFRJ) publicou, no Nexo Políticas Públicas, junto com Bruno Cunha e Eduardo Müller, um artigo em que pedem para esquecer as contagens regressivas para zerar emissões. Segundo os pesquisadores, a métrica mais importante é o orçamento remanescente de carbono.

O artigo explica que a adoção do conceito de net zero CO2 é relativamente recente e baseia-se na ideia de orçamento de carbono, que estabelece limites máximos de emissões líquidas de CO2 acumuladas ao longo do tempo. Para os pesquisadores, o sucesso do Acordo de Paris depende da convergência das ações dos países para níveis de emissões globais consistentes com as metas de temperatura, e a neutralidade de carbono, ou seja, o net zero, é uma consequência natural do conceito de orçamento de carbono.

O texto também diz que o ano de net zero é apenas um ponto no tempo e que existem muitas trajetórias para alcançar a neutralidade de carbono. Os orçamentos de carbono se aplicam às emissões globais, e não às emissões de entidades individuais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *